FANON DEEPFAKE, 2025
Guilherme Bretas 2’43’’
Fanon Deepfake
propõe um gesto de reinscrição visual de Frantz Fanon, pensador fundamental das lutas anticoloniais e da elaboração crítica do “pensamento negro”. Partindo de retratos amplamente difundidos do intelectual martinicano, Guilherme Bretas convoca a inteligência artificial como ferramenta para tensionar os limites entre arquivo, presença e ficção.
Ao animar imagens originalmente fixas, o artista transforma o deepfake em um dispositivo de memória — não para substituir o real, mas para reativar, no presente, a potência política e afetiva de Fanon. O rosto que antes repousava na imobilidade fotográfica adquire microgestos, respirações imaginadas, uma vida projetada. Bretas não busca reconstruir Fanon tal como foi, mas explorar como sua figura continua a nos interpelar, hoje, como sujeito vivo, encarnado e inquietante.
Nesse processo, a obra desloca a tecnologia do campo da simulação enganosa para o da evocação crítica. Fanon Deepfake revela como a IA pode operar como ferramenta para ampliar a presença histórica de figuras fundamentais que, apesar de amplamente citadas, permanecem restritas a imagens cristalizadas. Aqui, a animação não romantiza o passado, mas abre fissuras para pensar como lembramos — e como queremos continuar lembrando — aqueles que moldaram nossa imaginação política.
O trabalho, assim, não “revive” Fanon, mas ativa um Fanon possível: um corpo que retorna para olhar de volta, convocando o espectador a reconsiderar os modos de representação, de autoridade e de humanidade que atravessam tanto a história colonial quanto o nosso presente tecnológico.